1. o ônibus para de modo que eu desça suas escadas mais rápido que o normal. penso se os passageiros de dentro notaram minha aterrizagem desengonçada. olho em volta, míope, e tudo que vejo são rostos anônimos embaçados em direção a um horizonte que não existe aqui.
2. corto o caminho da melhor maneira possível permitida pelas ruazinhas do setor sul. atravesso uma espécie de parque que dá para várias avenidas. o lugar é calmo, cheio de árvores, folhas pelo chão lamacento me lembram mais uma vez que hoje faz frio.
3. o pequeno parque também faz fundo para grandes lojas, como a época móveis, cujo segurança me deseja boa tarde toda vez que passo. três pedreiros dormem na grama, ao lado de um caminhão.
4. o setor sul aos 21º é talvez a coisa mais bonita desta quinta-feira.
5. penso na cidade de leipzig, nas areias africanas e no anúncio do piloto em agosto passado, we are flying now over the swiss alps. penso na igreja de são francisco e suas dimensões afetando todas as curvas do pelourinho. tudo parece um sonho agora, a janela arranhada do avião, o pico dufour, os azulejos brancos, as salas escuras, o carpete cor de vinho, a luz quente e úmida de salvador entrando por todas as frestas.
6. sinto falta de ar. não sei se do caminho longo, do sopro cardíaco ou da saudade.
7. já na 118, meu atraso me faz desacelerar ainda mais o passo. os meninos despreocupados de humaitá agora ditam as regras dos que têm pressa. não preciso ir embora daqui. estou muito calma, muito leve, muito tranquila e minha alma poderia ser vendida por um preço inestimável, leiloada em uma crônica in the 80's, a vida gritando nos cantos.

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