Que apareçam as palavras enquanto meu corpo se esforça em desaparecer. Que surjam as confissões atrasadas: que sou uma tola cambaleando em explicações supérfluas, inúteis, vergonhosas. Quero tanto ser boa que sou péssima. Uma criança medrosa remoendo o dente-de-leite com a língua.
Ontem estávamos juntas, amigas inconfessáveis de olhares discípulos, tragédias que nos tornam humanas, artistas obscuras ensaiando uma sexualidade triste e coxa… Tentamos minha amiga, outro e outro dia. Ontem gravamos um vídeo, no tempo em que minha saia queimava, eu dancei enquanto você sorria, um drinque borbulhava em espumas de combustível e eram os estranhos que faziam a nossa festa.
Somos tão felizes em meio à multidão! Ela existe e a felicidade simplesmente surge porque podemos evitá-los com os ombros esquivos, porque se anuncia uma liberdade ainda não experimentada. O que faremos com essas coisas entre as mãos? Construiremos novas prisões.
O que fica é a sensação sublime em desaparecer. O alívio de desintegrar nossas fraquezas da noite anterior. Fingir que não somos nada disso. Somos maiores e melhores até mesmo na nossa tolice. Morro hoje novamente. Amanhã crescerei dez centímetros. No abraço íntimo da cidade que ignoramos; em Berlim ou Buenos Aires, até onde alcancem nossos braços frágeis.
Ana Luíza Alves
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