Tão insensíveis quanto o resto do corpo. Não sinto nada em meus dedos a não ser um formigamento cheio de pudor que pouco incomoda. Quero ficar sozinha, mas me limito a escolher as palavras certas para que não me entenda mal. Visto a personagem que você quer que eu seja sobre a mulher triste e insaciável que me persegue. Não queira saber tudo de mim. Eu irritantemente gosto dos meus segredos. Encarar as palavras e arrancá-las do abismo do corpo, qual uma criança apartada da mãe, é um processo frio, apesar de doloroso. É preciso estar só. O homem só é o que está mais forte. Não abrimos mão de nós mesmos e por isso permanecemos ilhas. Não deixamos de amar. Contudo. Está tudo guardado em uma caixa que não faz jus ao que abriga. Os amores, paixões que já foram, o álcool, as roupas sujas de noite. Sozinha em todos os lados. Sozinha de você e de todo o resto. Junta somente ao egoísmo que adoece este século. Que peça! Não sou forte o bastante para os teus fantasmas. Quanto ao amor, há muito descobri que não inebria meus pulmões ou minhas coxas. Continuamos a amar. Contudo. Assim, devagar e de qualquer jeito. Ontem, meu pai foi embora. Eu estranhamente quis chorar. Estranho e inapropriado para mim, chorar depois de tantos anos, na porta de maçaneta quebrada, às quatro e cinquenta da tarde. Há amor na ternura desengonçada de meu pai. Um amor que não inebria, mas que me fez querer chorar às quatro e cinquenta da tarde de ontem. Não chorei e não sentirei sua falta.
Não divido com ninguém meu ponto tímido de demência. Mas é minha fraqueza querer que alguém o perceba.
Dê uma olhada no espelho.
Você parece ridícula.
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