sábado, 7 de julho de 2012

"Não, ninguém morre. Absolutamente ninguém, não adianta usar metáforas já tão desgastadas pelo constante uso de que se morreu três vezes ontem, de que mês passado você ressuscitou cinco vezes porque tudo isso são bagatelas, é mentira, é cansativo, pois você está bem vivo, você está tão vivo quanto eu, e se você realmente deseja morrer, que morra, mate-se, lentamente, positivamente, não nas palavras, mas que você veja seu sangue escorrer, seu corpo tremer e sua língua revirar numa convulsão fantasmagórica, você se diz poeta, então seja, dê vida a suas palavras, dê a verdade que sua alma merece: você está tão ridiculamente vivo e saudável que menospreza a capacidade de ver o sol todas as manhãs, de respirar fundo por cinco minutos o ar do jardim, você não está morto, nem quer morrer pois sua covardia é seu remédio, você quer é ser salvo. Não preocupe-se mais, estou aqui, e, caso seja necessário, tenho uma faca na mão, eu te salvo, meu bem. Eu te salvo." — Gilberto Cunha Júnior

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