sábado, 14 de janeiro de 2012

Sobre piscinas e escapamentos


Durante toda a minha vida foi assim, eu buscando algo em que pudesse me agarrar como quem está prestes a morrer afogado. Lembro que há muitos anos, quando eu ainda sofria as consequências do péssimo casamento que meus pais tiveram, eu viajava para o norte todas as férias. Meu pai morava lá junto com uma mulher que tinha quatro filhos. Casa de bacana. Ninguém me tratava mal, mas não me tratavam bem, de qualquer forma.


A filha mais nova, tinha minha idade na época, era um daqueles tipos péssimos de criança. A guria gritava pra caralho e a diversão dela era me irritar. O pior é que meu pai fazia questão de me lembrar que ela tinha três caixas com todos os tipos de ornamentos pro cabelo, enquanto eu nunca sabia onde estavam meus diademas, perdia tudo.


Num certo mês de julho, meu pai e a mulher enfiaram-nos, eu e a menina escandalosa, numa colônia de férias da cidade. Foi numa dessas que me afoguei numa das piscinas de lá. É engraçado essa lembrança me ocorrer agora, depois de tanto tempo.


Na piscina havia uma marcação em amarelo alertando que do outro lado era bem mais profundo. Eu sabia o significado daquela risca fluorescente, mas mesmo assim eu fui. Aquela porra de fita amarela tava gritando pra mim que eu era pequena demais pra estar daquele lado. Só me lembro de ter erguido as mãos além do que eu podia, por muitas vezes, até apagar. Eu procurava algo para me segurar, mesmo sabendo que a borda da piscina estava longe. Até que eu fui corajosa algumas vezes na vida. Ou masoquista. Uma vez encostei a perna no escapamento de uma moto só pra ficar com cicatriz depois.


Hoje não há piscinas, nem escapamentos. São outras coisas. Sou eu segurando as pontas de algo qualquer que me faça sentir viva, que não me deixa morrer. Sentindo dores piores que queimação. Me testando o tempo todo, mesmo sem sair vitoriosa, mas simplesmente sair. 

2 comentários:

  1. a vida é cheia de fitas amarelas, filha.
    A treta é saber quais a gente tem as caras de passar e quais a gente caga de medo.

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  2. Me deu vontade de te pedir em casamento depois de ler esse texto.

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