segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

a hora mais escura


Eu disse que a gente ia ver isso depois, deixar acontecer, você sabe. A verdade, escondida nessa conversa furada, é que eu queria te amar do jeito mais excessivo que se pode amar nessa vida.
Eu lembro que já eram quatro da manhã, e qualquer quantidade de álcool que eu tivesse tomada horas antes já não tinha mais efeito, então eu falava pouco. Mas eu me lembro de ter confessado minhas fraquezas e de ter dito o quanto minha vida é uma merda. Deixei escapar poucas palavras, mas palavras demais, e talvez você ficou sem entender.
Por que você fala assim?
Por que é.
Silêncio.
Abafo o silêncio entregando minha boca ávida a sua, me deixando seduzir pela ideia de dois amantes sob a madrugada de cor monótona, abandonada pela lua.
Noite sem luar.
Dois bêbados passam andando arrastado e berrando coisas desconexas e você diz que essas poucas horas antes da alvorada pertencem completamente a eles, aos bêbados que afundam suas dores em alguns goles. Quão corajosos são esses homens, prontos pra se esquecer da vida e vomitar no dia seguinte. Quem se entrega, meu amigo, tem mais culhão que quem enfrenta. Eu não me entrego e nem enfrento, por isso sou a pior dos indivíduos.
Eu tenho que ir.
Eu também.
(Mas eu ficaria aqui pra sempre, se o sempre fosse possível).
Quantos beijos houve naquela madrugada? Ah, foram muitos... O suficiente pra escrever dúzias de poemas. E eu disse que ia ver. E você disse que não ia sumir não. Acho que nós dois somos grandes mentirosos, meu amor. Eu já devia saber que fui só um dia na tua vida de poeta cheio de amores, que o nosso pequeno caso não foi digno de romance europeu. Mas o que vem depois, afinal? O que eu sinto deve significar alguma coisa. As lembranças do nosso único dia de glória, não tão glorioso assim, teimam em me acompanhar desde então.
Se você não sabe o quanto eu me importo, saiba, ao menos, que naquela noite, quando nos despedimos, eu olhei pra trás. E você já havia virado a esquina.   

2 comentários:

  1. Que lindo (desculpa se eu só sei comentar isso, mas tá lindo mesmo).

    "Eu já devia saber que fui só um dia na tua vida de poeta cheio de amores, que o nosso pequeno caso não foi digno de romance europeu." Às vezes me sinto como esse poeta cheio de amores.

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