há seis meses encaro meu rosto
para encontrar os restos carcomidos de madalena
não há vias de me reconstruir
eu já ensaiei despencar no abismo mais covarde da avenida
são todas essas segundas-feiras
quando eu insisto por dez segundos em seus olhos azuis claro
e apenas torço em nome dos deuses para não te ver de novo
a vida poderia estacionar exatamente aqui, penso
quando o amor e o desgosto já aconteceram
enquanto as vontades morrem aos poucos
e o céu de Berlim vai se apagando da minha lembrança
resta somente a imagem triste de consoantes impronunciáveis
eu gostava de ter subido o Obelisco da Vitória e voltar para 1987
me proteger do frio nas estações de metrô
o destino parece mesmo uma grande sacanagem
uma eterna traição
agosto se aproxima e com ele todos os esquifes esperando pela terra
tenho medo de enterrá-los
e não sobrar mais nada para que possamos chorar
Nenhum comentário:
Postar um comentário