falamos de:
92, nossas mães, a crueldade do tempo
ressacas que fazemos parecer piores
como é detestável te deixar em casa
luvas de pelica que cobrem o peito
para que assim não sintamos o estalo da queda
para que assim sintamos pouco
falamos de:
como os dias podem ser agradáveis
estradas e o rio colorado
o eterno círculo das lembranças
que passeia doloroso pela hipoderme
falamos de:
quão tediosa pode ser a vida dos anjos
impostos afogados em latinhas
o ciúme de um certo sotaque português
espíritos azuis vagando em corredores vazios
falamos de:
castigo
crimes cometidos por grandes homens
um dia terrível em 1951, méxico
falamos de:
amor
como não conseguimos dizer em distâncias mínimas
a dificuldade em acompanhar suas mãos
dividindo-se entre a nuca e a coxa direita
falamos de:
sherilyn fenn, a mulher mais bonita do mundo
restaurantes japoneses e greasy spoons
anéis em arame cobre retorcidos no infinito
falamos de:
como desconfiamos daqueles que não se lembram nunca
como gostamos de cultivar dramas e tropeços
a calma que não basta
nossas vidas virando um espólio de paixões
falamos de:
amor, mais uma vez
que só nos restou sentimentos monocórdios
sem o espanto necessário
ou manchas inesperadas
falamos de:
como não devia estar tudo em seu lugar
que o domingo podia ser outra hora, outro dia
amanhã
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