quinta-feira, 7 de maio de 2015

feriado

falamos de:

92, nossas mães, a crueldade do tempo

ressacas que fazemos parecer piores

como é detestável te deixar em casa

luvas de pelica que cobrem o peito

para que assim não sintamos o estalo da queda

para que assim sintamos pouco


falamos de:

como os dias podem ser agradáveis

estradas e o rio colorado

o eterno círculo das lembranças

que passeia doloroso pela hipoderme


falamos de:

quão tediosa pode ser a vida dos anjos

impostos afogados em latinhas

o ciúme de um certo sotaque português

espíritos azuis vagando em corredores vazios


falamos de:

castigo

crimes cometidos por grandes homens

um dia terrível em 1951, méxico


falamos de:

amor

como não conseguimos dizer em distâncias mínimas

a dificuldade em acompanhar suas mãos

dividindo-se entre a nuca e a coxa direita


falamos de:

sherilyn fenn, a mulher mais bonita do mundo

restaurantes japoneses e greasy spoons

anéis em arame cobre retorcidos no infinito


falamos de:

como desconfiamos daqueles que não se lembram nunca

como gostamos de cultivar dramas e tropeços

a calma que não basta

nossas vidas virando um espólio de paixões


falamos de:

amor, mais uma vez

que só nos restou sentimentos monocórdios

sem o espanto necessário

ou manchas inesperadas


falamos de:

como não devia estar tudo em seu lugar

que o domingo podia ser outra hora, outro dia

amanhã

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