sábado, 6 de setembro de 2014

"fábula  de  um  amor  impossível






[sobe o pano. é abril em saint-germain des près, na paris de 1949]

julieta: eu nunca tinha visto um homem assim tão belo. e não voltei a ver. ele tocava e eu observava-o de perfil: um deus egípcio. foi michèle, a mulher de boris vian, quem mo apresentou e eu fiquei fascinada. ele tinha essa beleza e irradiava génio. era força e estranheza ao mesmo tempo. era a diferença e a modernidade do que ele tocava. eu tinha vinte anos e entendia aquela liberdade. tudo era partilhado porque não tínhamos meios, mas estávamos apaixonados. penso que ele ficou algo surpreendido por isso, pela minha liberdade e pela minha ausência de opinião e perspectiva sobre a questão racial. depois, não sei, talvez a música fosse mais forte, ele partiu.

romeu: a música tinha sido toda a minha vida e não tinha olhos nem tempo nem espaço para mais nada, até ao meu encontro com ela. ela trouxe-me isso, o que era gostar de algo que não a música. foi a primeira mulher que amei como um ser humano, num plano de liberdade e igualdade. ela era tão bela. eu não falava francês, ela não falava inglês: comunicávamos por expressões, por linguagem corporal. e depois já só falávamos com os olhos e os dedos. não havia lugar para o falso. durou algumas semanas e depois parti. mais tarde jean-paul sartre perguntou-me porque não tínhamos casado. respondi-lhe que não queria que ela fosse infeliz.

[cai o pano]"

aqui.


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