Andei por essa cidade, hoje, com a cabeça recostada no vidro
do ônibus. Parte da testa se apoiava na janela enquanto meus olhos buscavam
tudo naquelas ruas, naquela gente, naqueles postes, naqueles faróis de carro.
O que é mesmo que eu procurava?
Parece que por uns míseros segundos as coisas se perdem,
assim como as imagens que meus olhos captavam se perdiam enquanto o ônibus
andava. E, por mais que eu torcesse o pescoço ou forçasse a vista, eu perdia
aquele rosto do lado de lá da janela, e eu perdia, talvez, para sempre. Perdia
as faixas amarelas da pista, os outros ônibus que iam ficando para trás e as
pessoas dentro deles também. Nunca mais verei aquelas caras cansadas. Isso não
te incomoda? A possibilidade do nunca? Já te disseram que nunca é tempo demais?
É tão demais que me tira o ar pensar nisso.
Por que a gente deixa as coisas irem embora?
Talvez esse seja o destino de todas as coisas. Passar. Mas
eu nunca me esforcei tanto para que essas mesmas coisas permanecessem. Só espremo
os olhos, a testa continua encostada na janela e o jeito de resolver isso é olhando pra outra direção, pras próximas imagens, pras próximas
coisas. E me doer de falta de tudo depois, pois é isso que eu sei fazer bem,
doer.
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