domingo, 5 de fevereiro de 2012

maria louca


Pra compensar os amores que eu não tive, confesso que inventei. Inventei os mais doces beijos, todos dados no escuro, enquanto eu me apertava contra teu peito. Inventei que eu tomava pra mim cada dor contida nas tuas palavras, e que eu dizia um tudo bem que te acalmava. Inventei que o nosso amor, que nunca existiu, foi a mais forte das paixões, a mais esquizofrênica e urgente. A mais triste também, porque a tristeza tornou-se parte de mim e a dor, ridiculamente, é minha melhor amiga. Tenho sido um absurdo estes últimos dias. Tão assim que eu rio toda vez que encaro o espelho, o sorriso mais cínico que eu vi na vida. Quando foi que me tornei amarga, não sei. Quando foi que eu aprendi a carregar os anos, não sei. Quando foi que eu inventei nosso romance, não sei. Estou perdendo a memória, mas à noite você me vem e a nossa história começa outra e mais outra e outra vez. E quando eu acordo, me vejo segurando minhas próprias mãos bem na beirada da cama, prestes a cair. Covarde demais pra rasgar o peito, mas corajosa o suficiente pra desejar a morte. Todos os dias. São esses tipos desprezíveis que inventam. Eu sou um desses tipos. Eu acho outras formas pra rasgar o peito e fazer jorrar os fantasmas, as angústias, as lágrimas secas. Eu invento que te amo e que receio te amar. Eu já sabia que meu destino era ser a Maria louca dos olhos selvagens, eu já sabia isso desde os sete anos quando eu me trancafiava em minhas próprias histórias, quando eu vivia o que eu queria no quintal. Vivo o que quero às quatro da manhã, não tem coisa mais bonita, não tem coisa mais audaciosa. Como é gostosa toda essa liberdade de te inventar, de inventar nós e nossos fins e infindáveis recomeços. Acabo com tudo só pra começar de novo centenas de vezes. Acordar sozinha é apenas uma dor que eu tento reparar forçando minha cabeça contra teu peito no escuro. 

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