Pra compensar os amores que eu não tive, confesso que
inventei. Inventei os mais doces beijos, todos dados no escuro, enquanto eu me
apertava contra teu peito. Inventei que eu tomava pra mim cada dor contida nas
tuas palavras, e que eu dizia um tudo bem que te acalmava. Inventei que o nosso
amor, que nunca existiu, foi a mais forte das paixões, a mais esquizofrênica e
urgente. A mais triste também, porque a tristeza tornou-se parte de mim e a
dor, ridiculamente, é minha melhor amiga. Tenho sido um absurdo estes últimos
dias. Tão assim que eu rio toda vez que encaro o espelho, o sorriso mais cínico
que eu vi na vida. Quando foi que me tornei amarga, não sei. Quando foi que eu
aprendi a carregar os anos, não sei. Quando foi que eu inventei nosso romance,
não sei. Estou perdendo a memória, mas à noite você me vem e a nossa história
começa outra e mais outra e outra vez. E quando eu acordo, me vejo segurando
minhas próprias mãos bem na beirada da cama, prestes a cair. Covarde demais pra
rasgar o peito, mas corajosa o suficiente pra desejar a morte. Todos os dias. São
esses tipos desprezíveis que inventam. Eu sou um desses tipos. Eu acho outras
formas pra rasgar o peito e fazer jorrar os fantasmas, as angústias, as lágrimas
secas. Eu invento que te amo e que receio te amar. Eu já sabia que meu destino
era ser a Maria louca dos olhos selvagens, eu já sabia isso desde os sete anos
quando eu me trancafiava em minhas próprias histórias, quando eu vivia o que eu
queria no quintal. Vivo o que quero às quatro da manhã, não tem coisa mais
bonita, não tem coisa mais audaciosa. Como é gostosa toda essa liberdade de te
inventar, de inventar nós e nossos fins e infindáveis recomeços. Acabo com tudo
só pra começar de novo centenas de vezes. Acordar sozinha é apenas uma dor que
eu tento reparar forçando minha cabeça contra teu peito no escuro.
"o nosso Amor a gente inventa
ResponderExcluirpra se distrair"
faço isso demais.