Era um teatro a céu aberto. No palco uma vitrola tocando alguma coisa de 40 anos atrás. Ele estava sentado numa cadeira de madeira, cigarro no canto da boca. Ao seu redor haviam umas dez pessoas, mas era como se fosse só ele. Eu só via ele ali e ele parecia não ver porra nenhuma. Continuou imóvel com um maldito olhar irônico no rosto enquanto o cigarro se transformava em cinzas. Fui embora antes dessa completa transformação, pois eu queria lembrá-lo daquele jeito: ainda com o cigarro no canto da boca.
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É um senhor que eu vejo, talvez, uma vez por semana. Sua presença é meio incerta naquele lugar. Ou ele está lá, mas resolve ficar sozinho em outra parte da casa. Pode ser. Um dia, sozinha numa sala, eis que surge aquela intrigante figura. Ele para bem em minha frente, olha meus olhos e diz que os acha pensativos. Mais tarde ele me lembra que "tens olhos pensativos" e diz que eu nunca devo me esquecer disso. Pois bem, adorável senhor, nunca esquecerei, por mais que eu queira.
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Esse eu vi numa pequena sala de cinema. Por que chamou minha atenção? Talvez pelo fato de estar sozinho lá. Uma vez, conversando com uma amiga, falamos o quão é atraente alguém sozinho numa sala de cinema. Desejei que ninguém estivesse lá, nem eu. Mas que, de alguma forma, meu olhos pudessem apreciar aquela belíssima imagem. Só ele e o reflexo da tela no seu rosto. Só ele e sua solidão sendo disfarçada por imagens de filme.
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