quarta-feira, 18 de maio de 2011

Num fim de tarde

Sentados num chão de pedra, observando o fim da tarde. O sol está se despedindo deles e eles estão se despedindo um do outro. Não poderia haver cenário melhor e mais triste que aquele. O fim da tarde, o fim deles. A diferença era que o sol voltaria ao amanhecer, eles não. Era um adeus, um último adeus.
Ele pousou sua mão sobre a dela. Em resposta, uma lágrima fez uma dolorosa trilha pelo rosto daquela frágil figura. Ela suportou, ela se rendeu àquela lágrima que machucava mais que mil facadas. Faltava pouco para que seus olhos virassem um oceano. Ele não ousou olhá-la. Ele não ousou soltar sua mão. Faltava pouco tempo, o sol os apressava. O céu, num misto de vermelho e amarelo, anunciava o fim. Porque até as despedidas têm começo e fim.
A despedida deles não começou quando se sentaram naquele chão de pedra. Não. Ela, a despedida, chegou como quem não quer nada quando o coração dela não mais disparava ao vê-lo. Chegou quando ele não via mais qualquer graça em ligar para ela no meio da noite, a fazendo xingar com uma voz desengonçada de sono. Veio quando os risos foram se tornando escassos, quando as horas e horas de conversa jogada fora viraram diálogos monótonos e vazios. Quando o beijo começou a significar “oi” e “tchau”.
A despedida veio nessas banalidades. E logo se cansou desse lado trivial do amor, revelando o lado trágico. O fim. O fim, esse insensível, cujo cartão de visita são lágrimas que parecem não ter fim!
O manto negro da noite os cobria timidamente. O sol levava embora aquilo que um dia eles foram juntos, mas deixava para cada um as lembranças para serem pensadas num solitário fim de tarde. 

5 comentários:

  1. "A aurora em que os amantes deixam os braços um do outro é a mesma em que são executados os revolucionários sem revolução. O isolamento a dois não resiste ao efeito do isolamento geral. O prazer desfaz-se prematuramente e os namorados se encontram nus no mundo, seus gestos subitamente ridículos e sem sentido. Nenhum amor é possível em um mundo infeliz.

    O barco do amor se quebra contra os recifes da vida cotidiana.

    Você está pronto para destruir os recifes do velho mundo antes que eles destrocem teus desejos? Os amantes deveriam amar seu prazer com mais consequência e poesia. Conta-se que o príncipe Shekour capturou uma cidade e ofereceu a sua favorita por um sorriso. Alguns de nós se apaixonaram pelo prazer de amar sem reservas – com paixão suficiente para oferecer ao nosso amor o leito magnifico de uma revolução."

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  2. Hum...se o sol leva embora com sigo aquilo que eles foram juntos, é um sol novo que nasce num novo amanhecer.
    Realmente, é bom manter as lembranças, apesar de todo o desejo que todo munto tem de eventualmente jogar fora o passado.

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  3. Tava relendo esse texto... deu um toque no coração. É... a diferença é sutil mas é essencial...

    As vezes não dá pra viver à altura da poesia que a gente carrega dentro da gente...

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  4. L. M., é sempre bom ter suas visitas e seus comentários. não sei se vc ainda vai ler isso que escrevo agora, mas eu gostaria de saber quem escreveu o texto que vc postou em forma de comentário logo acima... até mais, é uma honra compartilhar meus textos com vc.

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